Marina Kroeff endossa campanha do Dia Mundial de Combate ao Câncer: “Essa luta precisa ser de todos nós”

Hospital Mário Kroeff realiza cerca de 8 mil atendimentos e 100 internações por mês. Unidade atende 98% de pacientes pelo SUS e sobrevive de doações e parcerias
Natália Oliveira

O dia 4 de Fevereiro é o Dia Mundial de Combate ao Câncer, doença que mata cerca de 9 milhões e 600 mil pessoas por ano no mundo. Ou seja, um dos principais problemas de saúde pública do planeta. Ao longo dos anos, a luta contra o câncer mudou de formato. Com o avanço da medicina os tratamentos deixaram de ser apenas paliativos e passaram a apostar na cura dos pacientes. De acordo com a última pesquisa realizada pela American Cancer Society, a mortalidade global por câncer caiu 2,2% entre 2016 e 2017. Os pesquisadores atribuem essa queda a avanços no tratamento de melanomas e câncer de pulmão. Este último segue sendo o que mais mata no mundo.

A evolução do tratamento

A cura do câncer é possível e o principal pilar para ela é o diagnóstico precoce  – Juliane Rodrigues, chefe da oncologia”

O Hospital Mário Kroeff, afiliado da Femerj, completou 80 anos no ano passado. Quando foi criado tinha como função acolher pacientes incuráveis. Na época, havia apenas um tratamento para o câncer: a cirurgia. O médico Mário Kroeff, fundador do hospital, trouxe os dois primeiros aparelhos de radioterapia para o Brasil e também o primeiro bisturi elétrico, que permitiu a coagulação através do calor, evitando a contaminação de outras células. 

Hoje, com as novas técnicas, mesmo sendo a última estrutura na rede de tratamento da doença no estado, que recebe os pacientes diagnosticados e encaminhados pelo Sistema Único de Saúde, o Hospital Mário Kroeff acredita na cura de seus pacientes. Um marco disso foi a inauguração, no ano passado, do sino da conquista. Todo paciente que termina o tratamento toca o sino, comemora a vitória e a superação sobre a doença, e ainda enche de esperança o coração das outras pessoas que seguem internadas. A primeira a tocar o sino foi Marina Kroeff, atual presidente do hospital, filha do fundador e que superou um câncer de mama. 

Marina Kroeff na inauguração do sino da conquista – foto: Hospital Mário Kroeff

No ano passado, o hospital Mário Kroeff realizou 12 mil e 88 atendimentos ambulatoriais, 2 mil 922 internações e 1770 cirurgias. A chefe da oncologia, Juliane Canary Rodrigues, disse que hoje é completamente possível afirmar que a cura do câncer existe, mas que o controle da doença depende principalmente de um diagnóstico precoce. No câncer de mama, por exemplo, descobrir cedo possibilita a remoção do tumor com uma cirurgia mais conservadora, que preserve a autoestima da mulher. 

Em relação ao câncer de colo de útero, por exemplo, a oncologista conta que a taxa de mortalidade no Brasil é de 40%, sendo que é um câncer completamente evitável e curável. Nos Estados Unidos, a incidência desse tipo de câncer é baixíssima graças às políticas preventivas como a realização de exames e a vacinação do HPV. “É uma coisa que angustia, porque atinge geralmente mulheres jovens, muitas vezes mães de crianças pequenas”, desabafa Juliane.

A chefe de oncologia do Hospital Mário Kroeff reforça que, apesar de todas as dificuldades financeiras do hospital e da falta de acessos a algumas medicações mais caras, o grande drama hoje da oncologia é a demora do acesso dos pacientes ao diagnóstico, procedimentos e tratamentos na rede SUS. As enormes filas fazem com que os pacientes cheguem ao hospital com o câncer em estado avançado, o que dificulta o tratamento e a chance de cura. O Brasil foi um dos primeiros países a falar em diagnóstico precoce, mas faltam políticas públicas que garantam esse direito à população, principalmente mais carente. “O governo precisa tomar medidas urgentes para resolver esse problema, O que a gente vê é que a população em geral não têm acesso”, afirma a oncologista.

Saiba mais sobre o Hospital Mário Kroeff:http://www.mariokroeff.org.br/

Neste dia mundial do câncer quem é você e o que você fará?

Material da Campanha do Dia Mundial do Câncer da União Nacional para Controle do Câncer http://www.worldcancerday.org/pt-br

O Dia Mundial de Combate ao Câncer tem como objetivo principal mobilizar a comunidade internacional para acabar com as injustiças e o sofrimento causados pela doença. A ideia é trazer informação, conscientizar a população, acabar com preconceitos e quebrar tabus. A União Internacional de Combate ao Câncer (UICC) definiu como tema da campanha “Eu sou e eu vou – Você é o herói dessa história”, um apelo encorajador à ação individual, para um impacto global de redução do câncer.

“No dia 4 de fevereiro, quem quer que você seja, suas ações, grandes ou pequenas, farão uma mudança duradoura e positiva. Porque o progresso é possível. Precisamos do seu comprometimento para criar um mundo sem câncer”, diz a campanha, que ainda pergunta: “Neste dia mundial do câncer quem é você e o que você fará?”. No site  www.worldcancerday.org/pt-br o visitante encontra ideias de como agir dedicando pelo menos um minuto do dia à luta contra o câncer no mundo, como por exemplo fazer uma postagem nas redes sociais, se informar sobre a doença, traduzir textos e dados para tornar o conhecimento da área mais acessível, dentre outras ações.

Para Marina Kroeff, presidente do Hospital Mário Kroeff, quando a campanha fala que todos nós podemos agir é verdade. O hospital, por exemplo, é filantrópico e sobrevive de doações e parcerias. As pessoas e empresas doam alimentos, ar condicionado, fazem reformas de banheiros, refeitório. Às vezes são anônimos sem nenhuma relação com o hospital. Algumas ONGs parceiras também levam voluntários que oferecem carinho aos pacientes e familiares. Uma das organizações, a Oncoimagem Brasil, trabalha a autoestima e o visual das pacientes.

Atualmente, as principais demandas do Hospital Mário Kroeff são um tomógrafo, para não precisar deslocar os pacientes para clínicas parceiras, e um aparelho de branquiterapia, tipo de radioterapia feita no interior do órgão, muito importante para os tratamentos de próstata e colo de útero.

Marina Kroeff – foto: Equipe Comunicação

Nessa luta contra o câncer, todo mundo pode doar um pouco. O que quer que seja: tempo, carinho, compreensão e até esperança” – Marina Kroeff

Falar de câncer ainda é um tabu no Brasil

A presidente do Hospital Mário Kroeff lembra uma das principais dificuldades na luta contra o câncer é a falta de informação e os tabus para falar da doença. “Até para os médicos é difícil dizer para alguém que a pessoa tem câncer. Parece uma sentença de morte”, comenta Marina. A médica compara o câncer com a AIDS, que deixou de ser um tabu, pois as pessoas acreditam no tratamento. “A população precisa saber que hoje os tratamentos são eficazes e que quando identificarem qualquer sintoma como  nódulos e sangramentos devem procurar atendimento”, afirma a doutora.

Juliane Rodrigues, responsável pelo tratamento de quimioterapia do hospital, lembra que outro obstáculo a ser superado é o medo da quimioterapia. A especialista lembra que já existem medicamentos menos tóxicos, que geram menos efeitos colaterais, e soluções que controlam sintomas como enjoo e vômito. Além disso, hoje o Hospital Mário Kroeff trabalha com uma equipe multidisciplinar, com psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e nutricionistas que auxiliam no processo. “A gente sempre fala é que é eficaz, funciona e aumenta a chance de cura. Logo o paciente começa a ver os resultados e o tratamento se torna mais leve”, conta a oncologista. 

A prevenção

Juliane Rodrigues – foto: Equipe Comunicação

Ao contrário do que muita gente pensa há como prevenir o câncer. Até 3 milhões e 700 mil vidas poderiam ser poupadas a cada ano com a implementação de estratégias de prevenção, detecção e tratamentos precoces, segundo a União Internacional de Combate ao Câncer. Ainda de acordo com a UICC, até 10% dos cânceres são relacionados a mutações genéticas, enquanto 27% das mortes por câncer são causadas por uso de tabaco e álcool. Juliane Rodrigues confirma essa informação e diz que o uso de tabaco não causa apenas câncer de pulmão, mas também de mama, colo de útero e bexiga, por exemplo. Além desses, o câncer de cabeça e pescoço está muito associado ao consumo do cigarro junto com de álcool.

A oncologista reforça que existem alguns cuidados que podem evitar o surgimento de tumores como se conhecer, conhecer seu corpo e procurar assistência quando notar qualquer mudança; se vacinar, principalmente contra a HPV; usar preservativos; ter hábitos alimentares saudáveis; realizar exercícios físicos; e a realizar exames de rotina.

Deixe uma resposta