Edmilson Damasceno e Marcelo Perello dizem que Covid-19 reforça importância das instituições que representam os hospitais filantrópicos e beneficentes no Rio de Janeiro
Natália Oliveira
Os associados da Femerj e o Sindifiberj elegeram os novos membros dos Conselhos Administrativo e Fiscal para o triênio de 2020 a 2023. A eleição foi realizada no mês passado por videoconferência devido à pandemia do novo coronavírus no Brasil. Marcelo Hernandes Perello, da Irmandade Santa Izabel de Cabo Frio, foi eleito para presidência de Femerj. Edmilson Damasceno foi reeleito presidente do Sindfiberj.
Conheça aqui os membros eleitos para os conselhos
Marcelo Perello foi vice-presidente no mandato de Cesar Paim, que acabou no dia 28 de abril. O novo presidente da Femerj contou que desde a gestão anterior foi iniciado um plano para conduzir a federação de uma forma estratégica que aproximasse os associados e formasse uma parceria com os órgãos públicos relevantes para o setor filantrópico. No primeiro momento, o foco da diretoria foi dar autossuficiência e modernização para a Femerj e esse objetivo foi atingido. Segundo Perello, hoje a federação tem uma administração mais leve, ágil e transparente.
A relação com os afiliados foi construída principalmente através de cursos e treinamentos que ajudaram as instituições a se reorganizarem e aprimorarem a gestão. A Femerj representa desde pequenas instituições, até grandes hospitais. A ideia da antiga gestão foi proporcionar a capacitação de pessoal para que todos os afiliados pudessem adquirir o mínimo de autonomia e estrutura administrativa para dar sustentabilidade às instituições. Marcelo Perello disse que nesse novo triênio a ideia é dar continuidade a esse projeto.
Na mesma linha, o presidente reeleito do Sindfiberj, Edmilson Damasceno, disse que a reeleição mostra que a diretoria fez um bom trabalho e traz ainda mais responsabilidade na continuidade da tarefa. Damasceno lembra que o Brasil vive um momento de muito difícil, principalmente no setor de saúde. A pandemia do novo coronavírus trouxe muitos desafios e mudanças que fazem da Femerj e do Sindfiberj instrumentos cada dia mais necessários para dar apoio aos associados.
Damasceno reforçou a importância de firmar parcerias públicas e privadas para promover o fortalecimento e a aproximação do setor filantrópico com os entes públicos, principalmente com os deputados estaduais da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e com os deputados federais da bancada do Rio no Congresso Nacional. “Nosso objetivo para este triênio é fazer com que o protagonismo das instituições filantrópicas, principalmente de saúde, seja reconhecido”, afirmou Damasceno.
COVID-19: importância e desafios do setor filantrópico
As instituições filantrópicas têm desempenhado um papel imprescindível durante a pandemia da Covid-19 no Brasil. Esse protagonismo pode ser observado principalmente no Rio de Janeiro, onde as organizações são responsáveis por grande parte da oferta de serviços de saúde no interior do estado. 37% dos municípios do Rio dependem do atendimento de entidades filantrópicas que compõem o Sistema Único de Saúde.
Marcelo Parello contou que a Femerj tem atuado junto à Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB) e ao Ministério da Saúde para garantir auxílio para as instituições durante a pandemia de Covid-19. Todas as unidades de saúde consideradas filantrópicas dedicam pelo menos 60% de leitos para atendimentos da rede SUS. Com a pandemia, o Ministério da Saúde determinou que todas as atividades e cirurgias eletivas fossem paralisadas e o foco fosse todo voltado para o tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Isso gerou um grande impacto financeiros para as instituições.
Nesta terça-feira, membros da CMB estão reunidos com o Ministério da Saúde em Brasília para definir os critérios e as regras do repasse do auxílio de 2 bilhões para as Santas Casas, já aprovado no Congresso e sancionado pelo presidente da república. A Femerj está empenhada em fazer com que esses recursos cheguem o mais rápido possível até as instituições. Edmilson Damasceno, presidente do Sindfiberj, lembrou que outra questão que tem deixado as entidades vulneráveis são as inúmeras mudanças na legislação que vem ocorrendo em decorrência do estado de calamidade pública que estamos vivendo, principalmente no que se refere às regras trabalhistas.
Edmilson contou que o maior desafio para o sindicato é reunir todas essas mudanças e tornar a informação acessível para os associados. Para isso, estão sendo feitas cartilhas e debates virtuais que aproximem os afiliados, ajudando a esclarecer dúvidas de quem vive o dia a dia dessa epidemia, seja no papel de gestor, médico, enfermeiro, técnico ou profissional de apoio ao setor de saúde.
E quando isso passar?
Em dez anos, o Brasil perdeu mais de 23 mil leitos hospitalares, sendo 56% somente no Rio de Janeiro, que foi o estado que mais fechou instituições filantrópicas na última década. Hoje, por conta da pandemia, o estado está a beira de um colapso na rede pública de saúde e tem 90% dos leitos da rede privada ocupados. A esperança das novas diretorias da Femerj e do Sindfiberj é que possamos não só superar juntos esse momento, mas tirar dele uma lição: valorizar os profissionais da saúde, o SUS e as instituições filantrópicas do país.
O presidente do Sindfiberj, Edmilson Damasceno espera que essa emergência de saúde pública faça com que os governantes repensem o setor de saúde. Aparelhar a rede SUS para futuras epidemias e para o cotidiano do atendimento à população é uma necessidade que ficou evidente durante o enfrentamento à Covid-19. Outro ponto que precisa receber uma atenção especial no período pós pandemia, segundo Damasceno, é a valorização dos profissionais de saúde, que neste momento, mais do que nunca, estão demonstrando sua importância, dedicação e entrega para salvar vidas. Esses heróis, que estão na linha de frente do combate ao coronavírus precisam ter uma remuneração mais justa.
Já o presidente da Femerj, Marcelo Perello, pretende retomar o caminho de aumentar a representatividade da federação, aproximando ainda mais os associados e restabelecendo um canal de diálogo principalmente com a Secretaria Estadual de Saúde. No pós pandemia, Marcelo acredita que será fundamental trazer discussões sobre o respeito ao dinheiro público e racionalizar gastos com a saúde. Segundo ele, parcerias com hospitais filantrópicos são uma excelente saída para garantir um atendimento de qualidade à população a custos menores.
Marcelo deu como exemplo o Hospital do Câncer de Friburgo que só para ser construído custou 45 milhões para o governo e teve as obras paradas. Além dos gastos para colocá-lo em funcionamento a previsão de custo mensal para o hospital é de 4,5 milhões de reais. O mesmo atendimento que será prestado pelo Hospital do Câncer de Friburgo é feito em Barra Mansa e Cabo Frio por unidades de saúde filantrópicas dedicadas ao atendimento oncológico e que tem a mesma base populacional da cidade da Região Serrana. Essas unidades não custaram nada para o governo, porque foram construídas com recursos próprios e verbas de emendas parlamentares. O valor mensal para as unidades de Barra Mansa e de Cabo Frio se manterem em funcionamento é de 1,5 milhão de reais, três vezes menor do que o do Hospital do Câncer de Friburgo.
O presidente da Femerj apontou a parceria entre o governo e os filantrópicos como uma saída econômica e eficaz para resolver os problemas da saúde pública no Rio de Janeiro. Nesse modelo, o governo cria metas quantitativas e qualitativas e faz os repasses de acordo com os resultados. Isso reduziria o custo e garantiria um serviço melhor para a população.
Números da Covid-19 no Rio de Janeiro
Até a data de publicação dessa matéria, o estado do Rio tinha registrado 18.486 casos confirmados e 1.928 óbitos por Covid-19, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Há ainda 927 óbitos em investigação. Até o momento, entre os casos confirmados, 12.980 pacientes se recuperaram da doença.